sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A HORA DA ESTRELA - CLARICE LISPECTOR


   Quem nunca ouviu falar em alguma coisa dessa escritora estranha, sempre se escondendo das câmeras? Quem nunca tentou se fazer de intelectual dizendo que leu C.L? Bem, o romance que vou falar não é nenhum daqueles romances complexos dela. Aliás, é curto também (cerca 80 páginas). Quem leu "A paixão segundo G.H." tem vontade de se suicidar. Períodos longos com profundas explicações para alma que levam a lugar nenhum. Mas essa novela tem por característica a linearidade e um caráter cíclico. A primeira frase da obra é: "Tudo no mundo começou com um sim" e a última palavra do livro é "Sim". 
   Em suma, o livro se diz algo inútil. Quando ele acaba é que tudo começa. Mas, falemos da personagem principal: Macabéa. Uma retirante nordestina altamente inocente e inócua. É tão pobre que só come cachorro-quente (não, definitivamente não é a Bella do "Crepúsculo"). É analfabeta, mas a tia ensina ela datilografar copiando os "símbolos", um por um. Se apaixona por um nordestino também: Olímpico que a trai a três por dois, inclusive com uma das únicas amigas dela, a Glória (que, segundo Olímpico, era mais bem alimentada que "Maca"). Mesmo assim ela gosta dele e ele termina com ela dizendo a seguinte frase: " Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer" - ou seja, o mundo conspira contra ela. 
   Não me surrem, mas vou contar o final do livro: a moça vai à procura de uma cartomante indicada por amigas e a mulher lhe diz que ela encontrará o homem de sua vida: inteligente, bonito, rico e poderoso. Será uma mulher rica e só iria andar de casaco de pele (mesmo no Rio de Janeiro. Até a Macabéa desconfiou disso!!!), seria o momento de estrela. 
   Assim que ela sai da cartomante, uma Mercedes-Benz amarela atropela ela. Um homem de boa aparência, rico, inteligente e poderoso a mata. Trata-se da hora de estrela de "Maca". Enfim, ele é tão desgraçada que, mesmo nos momentos que deveriam ser felizes, ela sofre. 
   Contei o final porque sei que ele não é o mais importante dessa obra.  O mais relevante é atmosfera que você vive lendo Clarice. É uma experiência mágica viver num mundo idealizado por Macabéa onde todos são bons, têm boa índole, são cordiais... A obra trata o individualismo forçado... A desgraça humana... A maldade humana. Quando você vê a trajetória da retirante, há momentos que ela lhe desperta raiva, há outros em que desperta dó, há ainda outros que desperta apreensão se ela realmente vai conseguir se livrar de si. O "si" mesma é o seu problema. 
   A edição da Rocco que tenho é muito boa. Fonte confortável, papel de qualidade e um preço decente. Vale a pena. Se você quer investir numa obra de Clarice, invista em "A hora da estrela" que, talvez, seja a mais fácil> Porém é a qual onde a ucraniana tem mais a dizer. 


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