sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O BEIJO NO ASFALTO - NELSON RODRIGUES

   

   Com toda essa febre de vestibular, decidi escrever sobre essa curta obra de Nelson Rodrigues. Denominada pelo autor de "tragédia carioca em três atos", a obra se passa no Rio de Janeiro (onde mais, né? Em outro lugar, só se fosse São Paulo... o resto do país "come requentado"). 
   A primeira coisa que falaremos é sobre a fama de pornográfico e sem-vergonha do nosso autor centenário (completou 100 anos neste mês). Não, ele não o era; se você procurar algum palavrão em qualquer obra dele, verá que aparecerá a palavra mais forte: vagabundo (a). Se você quiser algo mais picante, assista à novela das nove da Rede Bobo, digo, Globo. Ele não tinha nada de pornográfico em seus escritos, apenas punha em evidência os "podres" da família brasileira. Aliás, o primeiro a fazer isso. Antes dele, as sujeiras eram postas para debaixo do tapete. Principalmente nos lares mais abastados.
  Bem, o livro conta a história de um homem (Arandir) que, por "caridade" beija a boca de outro que estava morrendo no asfalto (sugestivo, não?), foi atropelado. E o bafafá começa. A mídia se intromete e quase destrói o casamento que ele tinha com Selminha, sua inocente esposa. A situação com o sogro Aprígio fica ainda pior do que era antes. 
  Em resumo, toda a peça se envolve no simples e nada corriqueiro fato de Arandir ter beijado outro homem. Agora, pensem vocês, a repercussão que esse livro deu quando foi lançado. Todos ficaram escandalizados! Eu também não estou aqui para resumi-lo, estou aqui para comentá-lo. Li e gostei. É uma leitura extremamente agradável com um forte caráter jornalístico; a impressão é a de se ler um tabloide parado num jornaleiro, com pressa para tomar o ônibus... incrível! O livro é corrido demais. Mas você não se perde. Nelson faz questão de voltar ao tema central, faz questão de expor a mídia como nunca foi exposta (porque era sempre ela quem expunha). Linguagem simples e direta, diálogos claros e sem nenhuma enrolação literária (como adjetivos em excesso ou advérbios). Isso nos leva à linguagem enxuta pela qual era conhecido. 
   A edição da Nova Fronteira ficou muito atraente. Fonte decente, espaçamento legal e comentários de ninguém menos que Flávio Aguiar, grande literato e professor emérito da USP.
   Enfim, as personagens de Nelson são altamente sós, vivem enclausuradas numa cápsula inquebrável e com o passar dos dias, essas personagens se debatem à procura de uma saída, mas sabem que é em vão. Por isso todos o consideram pornográfico, ninguém o entende. 









A HORA DA ESTRELA - CLARICE LISPECTOR


   Quem nunca ouviu falar em alguma coisa dessa escritora estranha, sempre se escondendo das câmeras? Quem nunca tentou se fazer de intelectual dizendo que leu C.L? Bem, o romance que vou falar não é nenhum daqueles romances complexos dela. Aliás, é curto também (cerca 80 páginas). Quem leu "A paixão segundo G.H." tem vontade de se suicidar. Períodos longos com profundas explicações para alma que levam a lugar nenhum. Mas essa novela tem por característica a linearidade e um caráter cíclico. A primeira frase da obra é: "Tudo no mundo começou com um sim" e a última palavra do livro é "Sim". 
   Em suma, o livro se diz algo inútil. Quando ele acaba é que tudo começa. Mas, falemos da personagem principal: Macabéa. Uma retirante nordestina altamente inocente e inócua. É tão pobre que só come cachorro-quente (não, definitivamente não é a Bella do "Crepúsculo"). É analfabeta, mas a tia ensina ela datilografar copiando os "símbolos", um por um. Se apaixona por um nordestino também: Olímpico que a trai a três por dois, inclusive com uma das únicas amigas dela, a Glória (que, segundo Olímpico, era mais bem alimentada que "Maca"). Mesmo assim ela gosta dele e ele termina com ela dizendo a seguinte frase: " Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer" - ou seja, o mundo conspira contra ela. 
   Não me surrem, mas vou contar o final do livro: a moça vai à procura de uma cartomante indicada por amigas e a mulher lhe diz que ela encontrará o homem de sua vida: inteligente, bonito, rico e poderoso. Será uma mulher rica e só iria andar de casaco de pele (mesmo no Rio de Janeiro. Até a Macabéa desconfiou disso!!!), seria o momento de estrela. 
   Assim que ela sai da cartomante, uma Mercedes-Benz amarela atropela ela. Um homem de boa aparência, rico, inteligente e poderoso a mata. Trata-se da hora de estrela de "Maca". Enfim, ele é tão desgraçada que, mesmo nos momentos que deveriam ser felizes, ela sofre. 
   Contei o final porque sei que ele não é o mais importante dessa obra.  O mais relevante é atmosfera que você vive lendo Clarice. É uma experiência mágica viver num mundo idealizado por Macabéa onde todos são bons, têm boa índole, são cordiais... A obra trata o individualismo forçado... A desgraça humana... A maldade humana. Quando você vê a trajetória da retirante, há momentos que ela lhe desperta raiva, há outros em que desperta dó, há ainda outros que desperta apreensão se ela realmente vai conseguir se livrar de si. O "si" mesma é o seu problema. 
   A edição da Rocco que tenho é muito boa. Fonte confortável, papel de qualidade e um preço decente. Vale a pena. Se você quer investir numa obra de Clarice, invista em "A hora da estrela" que, talvez, seja a mais fácil> Porém é a qual onde a ucraniana tem mais a dizer. 


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

NOITES BRANCAS - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

   


   

   Não pude deixar de iniciar com esse livro... Há grandes chances de você já ter lido aqueles romances russos (pé no saco) com 1500 páginas. É quase uma maratona terminar de ler aquele catatau. Experimente "Noites Brancas": apenas 90 páginas, fonte em caixa grande e com parágrafos bem dividos. Dostoievsky provou nesta pequena obra que o livro não precisa ser descomunal para ser bom, cativante e brilhante. 
   O psicologismo das personagens russas, porém, é bem presente. As ideias do introvertimento, as aspirações, os momentos da psiquê humana são revelados também na noveleta. Bem como os diálogos densamente planejados. Enfim, não é "Crepúsculo". Existe todo um enredo preparado pelo autor. Uma via muito interessante.
   O título se refere ao fenômeno extremamente comum no Norte do Planeta, em que as noites demoram a escurecer. Mas não é simplesmente isso... Essa situação também se refere ao pensamento da primeira personagem principal que é apenas denominada de "Sonhador" - um homem de meia idade que está completamente desiludido da vida (vai ver teve de enfrentar um governo Lula na sua época). Seus amores todos foram fracassados, sua vida foi fracassada!!! E para complementar as depressões surge Nástenka (há várias traduções), uma moça pobre, que vive com sua avó. A velha cega prende a menina com um alfinete ao seu vestido para que não fuja em busca de machos. Claro, não dá certo. Ela encontra esse homem num "miramar"  e começa a conversar sobre muitos assuntos com ele, que tanto se sente sozinho. Mas ela dispõe uma condição: ele não deve se apaixonar por ela, porque está prometida a um outro homem, bem apresentável e lindo (totalmente ausente na história)!  Se não tivesse acontecido, não teria final do livro. Ah, mas é aí que você se engana! O final é extremamente diferente daqueles felizes do lixo dos EUA. O final, sim, é triste e psicológico. Você se debate porque aquilo vai acontecer com os dois.
   Deixando a obra-magna de Dostoiévski - "Crime e Castigo" de lado (800 páginas frouxo), talvez esta singela e curta obra (considerada por alguns literatos um conto) seja uma das mais significativas e belas de literatura russa. O trabalho tem um magnetismo próprio do autor, afinal ele viveu uma história de amor parecida com essa, uma caricatura dos desgraçados de meia idade que não conseguem mais agarrar uma ninfeta. Esqueça aqueles romances altamente femininos, também conhecidos como "água-com-açúcar" que sua avó lia. Este romance dói ao ser lido. Mas ninguém resiste a ficar sem saber o final. Vale a pena mesmo!!!

INÍCIO

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   Este blog foi criado com o intuito de deixar os transeuntes que o acompanham sempre informados da melhores obras que li (e dos lixos também). Não deixe de comentar.